Acordei às 10h, arrumei minha mochila, e saí do albergue debaixo de chuva. A temperatura tinha caído uns 20 graus (de 37 pra 17 graus). Andei 8 quarteirões até a Nyugati Pályaudvar (Estação do Oeste), para pegar o trem até o aeroporto.
Cheguei ensopado na estação. Comprei numa lanchonete o meu café da manhã (uns pães recheados) e um suco.
Na estação não havia bilheteria, só máquinas automáticas de venda de bilhetes. Por sorte eu ainda tinha moedas de forint, mas o problema foi outro. No painel da estação, estava sendo anunciada a partida do trem com o destino "AIRPORT". Só que a máquina de venda de bilhete tinha vários botões, cada um com um nome de um destino diferente, mas NÃO tinha o maldito AIRPORT. Nessas horas nunca aparece ninguém pra ajudar. O tempo estava correndo e eu tinha que comprar o bilhete logo, senão ia perder o trem. O proximo ia demorar uns 40 minutos, não servia mais pra mim.
Foi um custo, mas revirando os meus papéis, descobri que o nome do aeroporto de Budapest é Ferihegy. Um dos botões da maquina se chamava justamente Ferihegy. Coloquei as 3 moedas de 100 Forints (aproximadamente 3 reais) e saiu o meu bilhete.
Peguei o trem, que passou numas 10 estações até chegar a Ferihegy. O trem parou, e só tinha eu de passageiro para descer. Peguei a bagagem (1 mochilão de 16kg, 1 bolsa com 10kg e mais uma mochila pequena com 5kg), e andei meio vagão até uma das portas. Cadê que eu conseguia abrir a porta ? Apertei vários botões (tinha uns 5 do lado da porta, tudo escrito em húngaro). Tinha também uma alavanca, que normalmente só é usada em caso de emergência, e faz com que o trem pare. Achei melhor não puxar a alavanca. Já tinha uns 30 segundos que o trem estava parado. A qualquer momento ele ia andar de novo, e eu não conseguria sair com ele andando. Nesse caso, eu só teria como saltar na estação seguinte (sabe-se lá onde), teria que pegar outro trem 40 minutos depois pra voltar só uma estação, e provavelmente não daria mais tempo de pegar meu vôo. Bateu o desespero. Saí apertando tudo que nem um maluco. Reparei que tinha duas luzes, uma vermelha e outra verde. Encostei na verde e na verdade era um botão. Abracadabra... eis que a porta magicamente abriu-se e eu sai voando. Foi só eu ter colocado o pé na calçada que o trem começou a andar, coisa assim de 2 segundos !!! Cena de filme !!! Subi a escada rolante da plataforma rindo sozinho.
Depois que eu subi a escada, apareceram duas placas: FERIHEGY 1 e FERIHEGY 2. Devia ser terminal 1 e 2. Na minha passagem de avião não estava escrito em qual dos terminais era o embarque. Eu tinha 50% de chances de acertar. Resolvi apostar no Terminal 1, que era bem ao lado da estação onde eu saltei. Chegando lá, vi que era um terminal menor que o Santos Dumont antes da ampliação, e tinha meia dúzias de empresas operando lá. Lóoogico que o meu vôo (da companhia aérea hungara Malev) era no terminal 2. Descobri que os dois terminais não eram unidos, como no Galeão, e não dava pra ir andando pela rua, pois eram distantes, de acordo com a funcionaria do aeroporto. Eu tinha que pegar um ônibus. Encontrei o ponto de onibus, onde estava escrito "PLEASE BUY YOUR TICKET BEFORE BOARDING". E agora ? Lá fui eu de novo no setor de informações perguntar onde eu poderia comprar um bilhete de ônibus. Depois que eu perguntei, a funcionaria (uma húngara grossa, de poucos sorrisos) me olhou fazendo maior cara feia, e respondeu que eu podia comprar no jornaleiro ao lado.
Comprei o bilhete, embarquei no ônibus, e já estava imaginando o que mais poderia acontecer de errado. O ônibus quebrar ? Eu descer no ponto errado ? A quota de perrengues diária havia atingido o limite, mas felizmente daí em diante correu tudo bem. Cheguei no terminal 2 são e salvo, e embarquei rumo a Paris, onde passei mais 4 horas esperando o vôo da TAM pro Rio.
Em Paris, bateu a fome. Eu só tinha comido um sanduíche na estação de trem de Budapest e já era tipo 5 da tarde. Achei um McDonald's, mas eu não aguentava mais junk food.
Encontrei um bistrô francês bem no meio do terminal onde eu estava. Perfeito, era tudo que eu precisava, comida de verdade, e ainda por cima, francesa. A cozinha francesa não está nem de longe entre as minhas preferidas, mas resolvi dar uma chance. Vai que dou sorte. Sentei na mesa e pedi o menu. Entrada, prato quente, sobremesa...estava tudo em francês, e eu não entendi nada. Escolhi aleatoriamente uma entrada e um prato quente. Pedi também uma taça de vinho da casa.
O vinho veio primeiro. Na verdade veio uma jarra pequena com o vinho (como se fosse um suco), e a taça. O vinho era uma porcaria, e olha que eu não entendo nada do assunto. A garçonete deve ter pensado "ahá, mais um gringo otário achando que vai tomar o melhor vinho do mundo só porque tá na França ! Vou servir esse vinagre mesmo"
A fome estava apertando. Chegou a entrada. Era uma especie de creme de milho com umas conchas mergulhadas. Epa, perai...eu falei conchas ? Não eram bem conchas. Acho que era esgargot , ou algum outro animal rastejante !! Muito nojento !!! Vai encarar ??? Eu não tive coragem. Olha ele aí:
Comi um pouco do creme de milho. Espero que tenha sido milho mesmo. Prefiro não saber do que era. Deixei no prato os "bichos não-identificados" e pedi pra vir o prato quente. A garçonete olhou com cara preocupada, e foi logo perguntando se eu não tinha gostado. Mandei um sonoro NÃO. Ela saiu meio sem graça e trouxe o outro prato. Isso é engraçado na França, os garçons sempre perguntam se você gostou da comida. Eu pelo menos fui sincero.
Veio o segundo prato. Eram uns legumes, um pedaço de torrada grande com uma pasta preta e 3 pedaços de carne brancas de animal não identificado. Os pedaços tinham uma forma eliptica, e fiquei imaginando se não era de alguma lesma. Os "bichos" da entrada eram bem pequenos, quase do tamanho de uma ameixa, mas esses pedaços de carnes eram maiores, do tamanho de um tomate cortado mais ou menos. Seriam caracóis gigantes, tipo aqueles que dão em árvore ? Comi os legumes e fui mexendo com o garfo pra ver a consistênia da carne. Parti um pedaço e me pareceu peixe. Tomei coragem e comi um pedaço. Tinha sabor de peixe sem tempero (ou seja, horrível). Espero que tenha sido peixe mesmo. Olha aí o prato:
Pedi a conta: 25 euros. Sai do restaurante com fome e decepcionado com a cozinha francesa. Viva a fartura brasileira ! Com essa grana no Brasil eu passava uma tarde inteira numa churrascaria de primeira linha !!! Que saudade de casa ! Saudade de um feijão com arroz e farofa, picanha, mate gelado na praia, biscoito Globo, queijo qualho e aipim frito ! Viajar é bom não só pra conhecer lugares interessantes, mas também para aprender a dar valor a certas coisas que nós temos de bom no Brasil e não nos damos conta.
Embarquei no avião às 23h. Depois de 11h de vôo, cheguei no Galeão de manhã cedo (às 5 da manhã). Olhando as luzes da cidade brilhando pela janela, em meio à escuridão da madrugada, me veio a mente aquela música do Tom Jobim: "minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades...."
E chega ao fim mais uma viagem inesquecível !
Cheguei ensopado na estação. Comprei numa lanchonete o meu café da manhã (uns pães recheados) e um suco.
Na estação não havia bilheteria, só máquinas automáticas de venda de bilhetes. Por sorte eu ainda tinha moedas de forint, mas o problema foi outro. No painel da estação, estava sendo anunciada a partida do trem com o destino "AIRPORT". Só que a máquina de venda de bilhete tinha vários botões, cada um com um nome de um destino diferente, mas NÃO tinha o maldito AIRPORT. Nessas horas nunca aparece ninguém pra ajudar. O tempo estava correndo e eu tinha que comprar o bilhete logo, senão ia perder o trem. O proximo ia demorar uns 40 minutos, não servia mais pra mim.
Foi um custo, mas revirando os meus papéis, descobri que o nome do aeroporto de Budapest é Ferihegy. Um dos botões da maquina se chamava justamente Ferihegy. Coloquei as 3 moedas de 100 Forints (aproximadamente 3 reais) e saiu o meu bilhete.
Peguei o trem, que passou numas 10 estações até chegar a Ferihegy. O trem parou, e só tinha eu de passageiro para descer. Peguei a bagagem (1 mochilão de 16kg, 1 bolsa com 10kg e mais uma mochila pequena com 5kg), e andei meio vagão até uma das portas. Cadê que eu conseguia abrir a porta ? Apertei vários botões (tinha uns 5 do lado da porta, tudo escrito em húngaro). Tinha também uma alavanca, que normalmente só é usada em caso de emergência, e faz com que o trem pare. Achei melhor não puxar a alavanca. Já tinha uns 30 segundos que o trem estava parado. A qualquer momento ele ia andar de novo, e eu não conseguria sair com ele andando. Nesse caso, eu só teria como saltar na estação seguinte (sabe-se lá onde), teria que pegar outro trem 40 minutos depois pra voltar só uma estação, e provavelmente não daria mais tempo de pegar meu vôo. Bateu o desespero. Saí apertando tudo que nem um maluco. Reparei que tinha duas luzes, uma vermelha e outra verde. Encostei na verde e na verdade era um botão. Abracadabra... eis que a porta magicamente abriu-se e eu sai voando. Foi só eu ter colocado o pé na calçada que o trem começou a andar, coisa assim de 2 segundos !!! Cena de filme !!! Subi a escada rolante da plataforma rindo sozinho.
Depois que eu subi a escada, apareceram duas placas: FERIHEGY 1 e FERIHEGY 2. Devia ser terminal 1 e 2. Na minha passagem de avião não estava escrito em qual dos terminais era o embarque. Eu tinha 50% de chances de acertar. Resolvi apostar no Terminal 1, que era bem ao lado da estação onde eu saltei. Chegando lá, vi que era um terminal menor que o Santos Dumont antes da ampliação, e tinha meia dúzias de empresas operando lá. Lóoogico que o meu vôo (da companhia aérea hungara Malev) era no terminal 2. Descobri que os dois terminais não eram unidos, como no Galeão, e não dava pra ir andando pela rua, pois eram distantes, de acordo com a funcionaria do aeroporto. Eu tinha que pegar um ônibus. Encontrei o ponto de onibus, onde estava escrito "PLEASE BUY YOUR TICKET BEFORE BOARDING". E agora ? Lá fui eu de novo no setor de informações perguntar onde eu poderia comprar um bilhete de ônibus. Depois que eu perguntei, a funcionaria (uma húngara grossa, de poucos sorrisos) me olhou fazendo maior cara feia, e respondeu que eu podia comprar no jornaleiro ao lado.
Comprei o bilhete, embarquei no ônibus, e já estava imaginando o que mais poderia acontecer de errado. O ônibus quebrar ? Eu descer no ponto errado ? A quota de perrengues diária havia atingido o limite, mas felizmente daí em diante correu tudo bem. Cheguei no terminal 2 são e salvo, e embarquei rumo a Paris, onde passei mais 4 horas esperando o vôo da TAM pro Rio.
Em Paris, bateu a fome. Eu só tinha comido um sanduíche na estação de trem de Budapest e já era tipo 5 da tarde. Achei um McDonald's, mas eu não aguentava mais junk food.
Encontrei um bistrô francês bem no meio do terminal onde eu estava. Perfeito, era tudo que eu precisava, comida de verdade, e ainda por cima, francesa. A cozinha francesa não está nem de longe entre as minhas preferidas, mas resolvi dar uma chance. Vai que dou sorte. Sentei na mesa e pedi o menu. Entrada, prato quente, sobremesa...estava tudo em francês, e eu não entendi nada. Escolhi aleatoriamente uma entrada e um prato quente. Pedi também uma taça de vinho da casa.
O vinho veio primeiro. Na verdade veio uma jarra pequena com o vinho (como se fosse um suco), e a taça. O vinho era uma porcaria, e olha que eu não entendo nada do assunto. A garçonete deve ter pensado "ahá, mais um gringo otário achando que vai tomar o melhor vinho do mundo só porque tá na França ! Vou servir esse vinagre mesmo"
A fome estava apertando. Chegou a entrada. Era uma especie de creme de milho com umas conchas mergulhadas. Epa, perai...eu falei conchas ? Não eram bem conchas. Acho que era esgargot , ou algum outro animal rastejante !! Muito nojento !!! Vai encarar ??? Eu não tive coragem. Olha ele aí:
Comi um pouco do creme de milho. Espero que tenha sido milho mesmo. Prefiro não saber do que era. Deixei no prato os "bichos não-identificados" e pedi pra vir o prato quente. A garçonete olhou com cara preocupada, e foi logo perguntando se eu não tinha gostado. Mandei um sonoro NÃO. Ela saiu meio sem graça e trouxe o outro prato. Isso é engraçado na França, os garçons sempre perguntam se você gostou da comida. Eu pelo menos fui sincero.
Veio o segundo prato. Eram uns legumes, um pedaço de torrada grande com uma pasta preta e 3 pedaços de carne brancas de animal não identificado. Os pedaços tinham uma forma eliptica, e fiquei imaginando se não era de alguma lesma. Os "bichos" da entrada eram bem pequenos, quase do tamanho de uma ameixa, mas esses pedaços de carnes eram maiores, do tamanho de um tomate cortado mais ou menos. Seriam caracóis gigantes, tipo aqueles que dão em árvore ? Comi os legumes e fui mexendo com o garfo pra ver a consistênia da carne. Parti um pedaço e me pareceu peixe. Tomei coragem e comi um pedaço. Tinha sabor de peixe sem tempero (ou seja, horrível). Espero que tenha sido peixe mesmo. Olha aí o prato:
Pedi a conta: 25 euros. Sai do restaurante com fome e decepcionado com a cozinha francesa. Viva a fartura brasileira ! Com essa grana no Brasil eu passava uma tarde inteira numa churrascaria de primeira linha !!! Que saudade de casa ! Saudade de um feijão com arroz e farofa, picanha, mate gelado na praia, biscoito Globo, queijo qualho e aipim frito ! Viajar é bom não só pra conhecer lugares interessantes, mas também para aprender a dar valor a certas coisas que nós temos de bom no Brasil e não nos damos conta.
Embarquei no avião às 23h. Depois de 11h de vôo, cheguei no Galeão de manhã cedo (às 5 da manhã). Olhando as luzes da cidade brilhando pela janela, em meio à escuridão da madrugada, me veio a mente aquela música do Tom Jobim: "minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades...."
E chega ao fim mais uma viagem inesquecível !