segunda-feira, 10 de maio de 2010

[Mochilão 7] Dia 21: Pequim

Acordei cedo, às 8h.

Foto do meu quarto. Era para 4 pessoas, mas eu estava sozinho nele.

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Tomei café no 7-Eleven genérico, e peguei o metrô para a Praça da Paz Celestial. Queria conhecer o Mausoléu de Mao Tsé-Tung, mas quando cheguei lá, estava fechado por ser uma 2a feira.

Próximo dali, o Jian Lou (Torre de Flecha), no local onde antigamente existia uma imensa muralha cercando a cidade.

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Em frente a Torre de Flecha fica a Qian Men Dajie (Avenida do Portão da Frente), uma simpática rua de pedestres com um bondinho e várias lojas de chá e souvenirs.

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Estacionamento de bicicletas:

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Bairro residencial:

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Placa indicando a entrada do Houxiwa Hutong.

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Os hutongs são travessas estreitas com casas tradicionais chinesas. É a Pequim antiga. Muitas hutongs foram destruídas nas últimas décadas para dar lugar a avenidas mais largas e edifícios. Felizmente ainda restam intactas muitas áreas com hutongs. As casas destas áreas tem um formato interessante: o quarteirão tem no meio um pátio comum, onde só os moradores das casas tem acesso. Do lado de fora, as casas não tem quintal ou muros, apenas janelas pequenas. Os cômodos das casas tem janelas maiores viradas para o pátio interno.

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Chegando no moderníssimo Teatro Nacional:

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O Teatro Nacional, uma construção que parece coisa de filme de ficção científica. Tem uma forma eliptica de cor prateada, e é cercada por um lago. Não eram permitidas visitas na parte interna.

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Estranhas placas no parque ao redor do Teatro Nacional. Interprete se for capaz !

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Entrada do teatro:

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O teto da entrada do teatro, todo de vidro, é o fundo do lago. O efeito da luz batendo na água é muito bonito.

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Caminhando em direção a Tian'an Men (Praça da Paz Celestial), fui abordado por dois chineses, que perguntaram de onde eu era. Achei normal, pois isso acontecia o tempo todo no metrô e nas ruas de Pequim. Os chineses demostram curiosidade com os turistas ocidentais, pois não estão a acostumados a ver muitos estrangeiros por lá. No metrô, muitos chineses ficavam olhando pra mim espantados, ou me perguntavam coisas em chinês que eu não entendia.

Além disso, próximo a atrações turísticas, é comum ver jovens (principalmente mulheres) abordando turistas para vender pacotes turísticos de qualidade duvidosa, ou oferecendo visitas a alguma galeria de arte "para ajudá-las". É furada na certa.

Esses dois chineses começaram a puxar papo em inglês e demostraram curiosidade sobre o Brasil. Ficamos caminhando próximo a Tian'an Men e conversando sobre várias coisas: lugares interessantes para sair a noite, mulheres chinesas, mulheres brasileiras, o idioma chinês...eles me falaram que um chinês normal conhece cerca de 5 mil ideogramas, mas que no total há mais de 40 mil !!! Um deles contou que era empresário e morador de Pequim, e outro era um amigo de Hong Kong que estava visitando a cidade. Fomos num parque ao lado da Tian'an Men. Tirei essas fotos lá:

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O pequinês ficou me contando sobre o hábito que os chineses têm de tomar chá, e eu disse que no Brasil isso não é comum. Ele falou que estava indo pra uma casa de chá de um amigo dele ali perto, e perguntou se eu também não queria ir. Eu aceitei e fui com eles de taxi. Não sei onde é que eu estava com a cabeça quando aceitei entrar naquele taxi com dois estranhos que tinha conhecido 30 minutos antes. Nunca fui chegado a chá, mas tinha curiosidade para saber como era uma casa tradicional de chá chinesa. Foi o começo do "tourist trap" (roubada) em que eu caí (logo eu, mochileiro "advanced") !!!

Entramos na casa de chá. Era uma loja não muito grande com algumas mesas de madeira e estantes com frascos enormes contendo uma variedade inacreditável de ervas. Há muitas casas de chá como esta espalhadas pela cidade, onde são oferecidas a turistas a "cerimônia tradicional de chá", que é uma degustação de vários tipos diferentes de chá. Os chineses cumprimentaram o dono da loja, parecendo ser amigos. Sentamos numa das mesas e uma garota na faixa dos 20 anos começou a preparar o primeiro chá. Ela colocava a erva num recipiente pequeno com água fervendo, deixava ali por alguns segundos, e coava o chá, servindo para a gente em xícaras bem pequenas de porcelana. Nada a ver com o chá que conhecemos no Brasil, de saquinho. Ela falava em chinês o nome da erva e os benefícios que ela trazia para o corpo, e o pequinês traduzia para o inglês. Experimentamos uns 15 tipos de chá diferentes, inclusive um que era uma semente que se abria na água quente, formando uma flor.

Quis tirar uma foto da cerimônia, mas o pequinês não deixou, dizendo que não era permitido. Comecei a achar aquilo muito esquisito. No final, ele me pediu pra escolher os 3 tipos de chá eu tinha gostado mais, e me deu de presente 200g de cada um, mais uma tigela de porcelana. Não existe almoço grátis. Eu já estava achando aquilo ainda mais estranho.

Ele disse que os chás que eu escolhi e a tigela era presentes, mas a gente precisava dividir a conta da cerimônia de chá. Veio a conta: 1950 yuans para cada um. Heim ???? Pedi uma calculadora e fiz a conversão: 500 reais !!!! Os dois chineses tiraram cada um um calhamaço de notas de yuan do bolso, colocaram na mesa e ficaram olhando pra mim, esperando que eu fizesse o mesmo. Como fui burro !!! Caiu a ficha, ainda que tarde demais. Eu tinha caído como um pato numa típica tourist trap. Não acreditei !!! O sangue subiu a cabeça e a minha vontade era de jogar aquela água quente na cara daqueles dois trambiqueiros chinglings e sair correndo. Mas talvez não fosse a saída mais inteligente, pois eu poderia complicar ainda mais as coisas. Tratei de pensar rapidamente em algo mais inteligente, afinal de contas, eu não era um turista qualquer: era um brasileiro, e carioca. Eles simplesmente escolheram o cara errado e iam se dar conta disso logo em seguida, hehehe.

Vamos lá....Eu tinha uns 800 yuan (R$200) na carteira, e mais 100 dólares (que eu havia deixado trancado no armário do albergue). Isso foi tudo o que sobrou para mais 4 dias em Pequim. Como tudo na China é muito barato, 800 yuans dava com folga pra passar os 4 dias, mas eu não podia e nem tinha 1950 yuan para uma cerimônia de chá. Além do mais, eu não daria nenhum centavo para aqueles dois trambiqueiros. Era uma questão de princípios, e principalmente de honra. Eu ia me sentir um otário dos maiores fazendo isso. Resolvi usar o azar que dei com os cartões a meu favor. Eu havia perdido na Tailândia um dos cartões de crédito que havia levado (sabe-se lá como) e o outro cartão (de débito) simplesmente parou de funcionar no meio da viagem, em Hong Kong. Os yuans que eu tinha, eu consegui trocando os dólares que eu tinha levado de reserva, caso algo acontecesse com os cartões (ainda bem que levei os dólares, senão eu teria virado mendigo !).

Eu disse que 1950 yuans era muito dinheiro, e que algo devia estar errado. Os dois chineses falaram que esse era o preço cobrado pela casa, por ser um dos lugares mais tradicionais de Pequim (haha, duvido !!). Eu sabia que chá na China era baratíssimo, e uma degustação daquela não passaria de 100 yuan (R$25).

Falei que não tinha aquele dinheiro todo na carteira. Eles falaram que não tinha problema, pois eu poderia pagar com cartão. Ahá ! Dei meu cartão, digitei a senha (errada, vai que funcionava dessa vez), e deu transação rejeitada, como eu já esperava. Eu fiz uma cara de espanto, como se já não soubesse que o cartão estava com problemas. Tentei outras vezes e deu o mesmo problema. Eles falaram que eu poderia tirar dinheiro num caixa eletrônico num banco próximo. O pequinês me acompanhou até o caixa, e deu o mesmo problema. Fomos em mais 3 bancos tentar, e nada. Era uma situação esdrúxula, mas que estava totalmente a meu favor: eles simplesmente não tinham como arrancar dinheiro nenhum de mim. A única coisa que eu não poderia fazer era negociar um preço mais baixo e usar os yuans que eu tinha na carteira, senão eu ficaria sem dinheiro para os 4 dias restantes em Pequim.

O pequinês perguntou se no verso do cartão tinha algum telefone que eu poderia ligar perguntando o que estava acontecendo com meu cartão. Sim, tinha o telefone da central de atendimento do Banco do Brasil. Eu estava com meu celular no bolso, mas em nenhum momento tirei ele de lá. Eu não ia gastar nenhum centavo em ligação para o Brasil. O cara comprou um cartão pré-pago novo pro celular dele, fez uma chamada internacional pro Banco do Brasil e me passou o telefone. Eu falei em português com o cara, e disse que meu cartão não estava funcionando. O atendente disse que cartão de débito só poderia ser desbloqueado pelo gerente da minha conta, da minha agência no Rio. Falei a verdade pro chinês. Outra coisa contou a meu favor: não havia agências do Banco do Brasil em Pequim. Apenas em Xangai, a 1500 Km de distância. O chinês perguntou se eu tinha o telefone da gerente da minha conta no Brasil, e eu falei que não (realmente não tinha). Voltamos para a loja de chá. Acessei a internet no computador da loja e entrei no site do Banco do Brasil pra pegar o telefone da agência de Xangai. O pequinês falou em chinês com o atendente, explicando o problema com o cartão. O atendente disse que realmente só falando com o gerente da conta na minha agência no Brasil, em horário comercial. Eram 4 da tarde (3 da manhã no Brasil). Ainda faltavam 5h para a agência abrir no Rio (às 21h de Pequim).

O chinês trambiqueiro viu que eu estava colaborando, e decidiu me liberar, combinando de encontrar de novo comigo às 21h no Hotel Beijing, onde o amigo dele disse que estava hospedado. Lá a gente ligaria do celular dele para o telefone do gerente da minha conta no Brasil e tentaria desbloquear o cartão. Ele me deu um cartão com o telefone dele. Eu disse "OK, nos vemos lá", entrei num taxi e fui embora levando os presentes que o trambiqueiro chingling tinha me dado.

É claro que eu não apareci no hotel !!!

Moral da história: dois chineses metidos a malandro tentaram me passar pra trás, não conseguiram, e só se deram mal: gastaram dinheiro com várias ligações internacionais, perderam 4h do dia deles (quando poderiam estar enganando outros turistas) e ficaram esperando por mim igual a uns otários no hotel ! De quebra, eu fiz uma degustação de chá, ganhei 600g de erva e uma tigela de porcelana. Tudo isso sem gastar nenhum centavo ! hahaha

A única coisa que perdi foram 4 horas da minha tarde. Na prática, não mais daria tempo de ir a nenhuma atração turística, pois a maioria fecha cedo. Pedi pro taxista me levar para o Tian Tan (Templo do Céu), mas chegando lá, vi que já estava fechando.

Um típico tuk-tuk que circula pelas ruas de Pequim:

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Peguei o metrô de volta para o albergue.

Fui jantar num restaurante chinês perto do albergue com nome peculiar: 北京妈妈菜 (Beijing Mama Cai, ou Pratos da Mamãe de Pequim). Era o que eu procurava: um restaurante de comida bem caseira, e bem típica. No bairro de Sanlitun há muitas empresas multinacionais, embaixadas e hotéis de luxo, e por isso, circulam muitos estrangeiros. O comércio (lojas, restaurantes e bares) deste bairro está acostumado a lidar com estrangeiros. Lá, ao contrário de outros lugares da cidade, os cardápios têm versão em inglês. Pedi "burn eggplant" (beringela), e tinha que comer com palitos. Estava muito bom. Só que não era beringela. O chinês que traduziu o cardápio deve ter se enganado. Não consegui identificar o que era ! Espero que não tenha sido nenhum animal rastejante !! Custou apenas 38 yuan (R$10) e era tanta comida que dava para dois comerem e ainda sobrava.

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Enquanto estava jantando, me deu um estalo: lembrei que eu tinha comentado com os chineses trambiqueiros que eu estava hospedado num albergue em Sanlitun. Eu tinha quase certeza que esse era o único albergue do bairro. E agora ? E se os chineses, ao verem que eu não tinha aparecido no hotel como combinado, resolvessem me procurar no albergue ? Já eram 20h. Decidi que era melhor mudar de albergue, pois eu não ficaria tranquilo sabendo que eles poderiam me encontrar a qualquer momento. Eu tinha pouco mais de 1h antes que eles pudessem começar a me "caçar". Entrei na internet, peguei o endereço de 5 albergues distantes de Sanlitun e próximos a estações de metrô (o que é fundamental em Pequim). Antes de sair do meu albergue, eu tinha que me certificar que eu saberia encontrar o albergue novo de madrugada, e ele precisaria ter vagas. Tentei o primeiro albergue, localizado próximo ao Parque Bei Hai. Segundo o mapa, ele ficava dentro de um hutong (travessa). Andei por quase meia hora e não consegui localizá-lo. Desisti e tentei encontrar o seguindo albergue da minha lista, localizado perto da Qian Men Dajie (Avenida do Portão da Frente). Esse também ficava dentro de um hutong, mas foi mais fácil de encontrar, pois tinha placas. Tinha vagas ! Pronto, parte do problema resolvido. Resolvi fazer o seguinte: ir relaxar, tomar uma cerveja na night, voltar pro albergue de madrugada, fazer o checkout, pegar um taxi e ir para o outro albergue. De madrugada eu ficaria mais tranquilo, pois sabia que era mais remota a possibilidade dos chineses estarem me esperando na porta do albergue !!!

Caminhando pela rua Sanlitun, descobri vários bares legais numas ruas próximas. Como era uma 2a feira, eu não esperava muita coisa, mas até que tinha algum movimento. Entrei num bar onde estava tocando uma banda de rock muito boa. Cerveja chinesa Qingdao por apenas 10 yuan !!! (R$2,50). O bar estava cheio. Todo mundo em pé assistindo a banda. Algumas poucas chinesas "chegáveis". O problema era o cheio insuportável de cigarro. Resolvi sair de lá.

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Algumas barracas de comidas na rua onde os bares ficavam. Tinha uns espetos com umas carnes estranhas. Não me atrevi a chegar perto daquilo. Seria tragédia intestinal na certa no dia seguinte.

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Fui depois para o bar ao lado, que estava mais vazio. Tinha um DJ tocando. Fiquei até 2 da manhã lá, quando o bar fechou.

Eu estava ainda tenso, com medo de dar de cara com os trambiqueiros na porta do albergue. Tomei coragem e voltei pra lá. Fiz o checkout, pegando o dinheiro que eu tinha pago adiantado pelas diárias. Peguei um taxi para o outro albergue, chamado West Beijing Hostel. Esse era bem maior. Meu quarto era enorme e tinha 6 beliches. Duas pessoas estavam dormindo quando cheguei. Fui dormir às 3h.

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