sábado, 11 de junho de 2011

[Mochilão 8] Dia 23: Dubrovnik - Mostar

Acordamos às 10h e fizemos o checkout na pousada.

Último dia de viagem do Rafael. Fomos na rodoviária ver os horários do ônibus para o aeroporto, pois o voo dele foi de tarde.

Almoçamos no mesmo restaurante de ontem, onde comemos uma massa.

Me despedi do Rafael, que tinha uma longa viagem pela frente: 2h de voo até Frankfurt, e mais 12h até o Rio. Contando o tempo de espera nos aeroportos, são 24 horas de viagem !!

Agora, pelas próximas 2 semanas (Bósnia, Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia e Espanha), continuo a viagem sozinho.

Me despedi da Croácia, um país sensacional, muito mais bonito e rico do que eu imaginava. Nos 7 dias que fiquei por aqui, não vi nenhum sinal de pobreza ! Ruas limpíssimas, segurança absoluta, povo educado e gente boa, beleza natural, paisagens iradas, clima ensolaradado e agradável, relíquias medievais, festas legais, mulherada gata, preços justos, boa infra-estrutura para o turismo (todo mundo fala inglês !!) ...o que mais alguém pode querer ??? Quero muito voltar um dia !!

Peguei o ônibus para Mostar, na Bósnia, às 16h.

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Apesar da curta distância (80Km), o ônibus demorou 3h para chegar, por causa das várias paradas para checagem de passaporte. A estrada entre Dubrovnik e Mostar passa por Naim, no pequeno trecho de litoral da Bósnia, entra novamente em território croata subindo em direção a Split, e depois, indo para o interior, entra novamente na Bósnia. Em cada uma dessas fronteiras subiu um policial pedindo para olhar o passaporte de todos os passageiros. Na última passagem de fronteira, o motorista recolheu o passaporte de todo mundo, entregou para o policial, e ficamos parados uns 20 minutos até os passaportes serem devolvidos. Achei estranho que eles não carimbaram nada no meu passaporte, só olharam mesmo.

O nome oficial do país é "Bósnia e Herzegovina", mas para simplificar, as pessoas só falam "Bósnia". Mostar é a capital da Herzegovina, a região mais ao sul do país. A Bósnia é a região mais ao norte. No meio, fica Sarajevo, a capital. Muita gente no Brasil ainda acha que a Bósnia é um lugar pobre, destruído pela guerra, com um povo sofrido e raquítico, mas a guerra já acabou há 16 anos !! O país se reergueu totalmente e hoje é a nova coqueluxe do turismo na Europa. As cicatrizes da guerra agora viraram atrações turísticas.

A guerra aconteceu basicamente porque a Bósnia queria se separar da Sérvia (que era o que tinha sobrado da antiga Iugoslávia), como fizeram a Eslovênia e a Croácia. O problema é que na Bósnia viviam (e ainda vivem até hoje) muitos sérvios, que não queriam a independência. Para piorar, ainda havia a intolerância religiosa: os sérvios são de maioria ortodoxa, os croatas são católicos e os bósnios são muçulmanos. Ter 3 povos de religiões diferentes vivendo no mesmo território acabou transformando a região num barril de pólvora. É algo bem semelhante ao que acontece em Israel entre judeus e árabes muçulmanos. A guerra entre sérvios e bósnios foi a mais sangrenta desde a 2a Guerra Mundial, com 200 mil mortos. Houve inclusive violações em massa de mulheres e meninas, e genocídio, como o massacre ocorrido na cidade de Srebenica, quando cerca de 9 mil bósnios foram mortos (incluindo mulheres e crianças) pelas forças sérvias. A paz só veio em 1995, com um acordo proposto pelo Bill Clinton, presidente americano na época. O acordo determinou a manutenção do território da Bósnia, mas a criação de dois Estados politicamente independentes, com leis, parlamentos e governos próprios: A Federação Muçulmano-Croata (baseado em Sarajevo) e a República Sérvia da Bósnia (Republika Sprska, baseado na cidade de Banja Luka). Na prática, é como ter dois países independentes dentro de um mesmo país, mas a capital oficial da Bósnia é Sarajevo.

A parte em azul é a Federação Muçulmano-Croata, e a rosa a República Sérvia da Bósnia:

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Apenas alguns kilômetros após entrar em território Bósnio, as diferenças começam a aparecer: placas no alfabeto romano e no cirílico, casas mais humildes, algumas de alvenaria sem reboco, e outras abandonadas. O ônibus fez uma parada numa pequena cidade, e reparei que as paredes dos prédios estavam cravejados de balas !!!

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Ao entrar em Mostar, a quantidade de casas e prédios abandonados ou com marcas de balas aumentou muito. Não esperava encontrar ainda tantas marcas da guerra, 16 anos depois do fim dela.

Um funcionário do albergue me esperava na rodoviária, e me levou de carro para o albergue. Muito gente boa o cara, e falava espanhol. Ele mostrou no caminho um prédio em ruinas que antes da guerra era a sede de um banco importante na região, e na guerra ficou conhecido como "Sniper Tower" (torre dos atiradores de elite). Perguntei a ele se lembrava algo da guerra (ele devia ter uns 25 anos), e ele disse que sim, e que o pai dele foi general do exército bósnio. Percebi que ele evitou o assunto. A guerra talvez seja um trauma para muitos bósnios, e por isso não gostam de torcar no assunto.

O albergue (Majdas Hostel) é bem pequeno, mas achei muito legal. É na verdade um apartamento de 3 quartos adaptado, que fica num prédio baixo, de uns 5 andares, numa zona residencial. O funcionário me deu um mapa e várias dicas legais para comer e sair de noite. A dona do albergue (Majda) também é bem gente boa. Assim que cheguei, me ofereceu um bolo de chocolate e algo para beber. Disse que tem recebido um número cada vez maior de hóspedes brasileiros, talvez porque a exigência de visto para a Bósnia foi abolida recentemente.

Conheci logo de cara no quarto dois americanos, uma australiana e um cara de Hong Kong (hong kongiano ??), e saimos todos para jantar num restaurante na cidade antiga.

No caminho, uma parede de uma construção abandonada com tantas marcas de balas, que parece até um queijo suíço:

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Andamos alguns quarteirões, e quando entramos na cidade antiga, fiquei impressionado com a beleza absurda do lugar. As pequenas e impecáveis ruas de pedestres com calçamento de pedra, as construções antigas, os bares e restaurantes na beira do rio... tudo isso juntando a atmosfera festiva de um sábado a noite, com os moradores e turistas caminhando sem rumo pelas ruas da cidade antiga, fazem de Mostar um lugar incrível, desses que te conquistam em questão de minutos. Mal cheguei, e já estava arrependido de passar só uma noite na cidade ! Até pouco tempo atrás, nunca tinha ouvido falar em Mostar, assim como 99,99% dos brasileiros ! Essa foi a grande surpresa da viagem até agora !

Algo que chama a atenção aqui também é a beleza das mulheres bósnias !!! Fiquei muito surpreso com isso ! Gatas demais !!!

O restaurante onde jantamos foi indicado pela dona do albegue. Achei muito legal o lugar, na beira do rio, com mesas de madeira. O garçon falava inglês e o cardápio tinha tradução para inglês também. Preços muitos justos.

Pedimos para começar 1 litro de vinho bósnio. Ele veio numa jarra:

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Pedi uma sopa de legumes e cogumelos de entrada:

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O prato principal foi schnitzel com recheio de queijo. O schnitzel é um prato alemão, uma espécie de empanado de carne de porco, mas aqui na Bósnia ele é bem diferente. Parece um bife, mas de carne de carneiro:

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O americano pediu cérebro (???) com salada e fritas. Era isso mesmo que estava escrito no cardápio: Brain with salad and french fries. Ninguém conseguiu descobrir de que animal o cérebro era proveniente, e ele disse que tem gosto de....cérebro !

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A conta foi muito barata. Entrada, mais o prato principal e o vinho que a gente dividiu deu 15 marcos pra cada um (R$18). Os preços na Bósnia são bem mais baixos que na Croácia.

A moeda aqui é o marco bósnio, mas o euro é aceito normalmente em todos os lugares. As vezes você paga algo em marcos e recebe o troco em euros, ou vice-versa. Um euro equivale a 2 marcos bósnios.

Fiquei com a galerinha do albergue até umas 10 da noite no restaurante, e depois partimos pra night no Ali Baba, uma boate incrível, dentro de uma CAVERNA !!! IRADO !!! Não pagamos nada para entrar, e a cerveja Sarajevsko custou apenas 3 marcos (R$3,60) ! Tocava música eletrônica. Na entrada, os seguranças revistam as pessoas como no Brasil.

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Tomando uma cerveja bósnia Sarajevsko:

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Com a galerinha do quarto !!

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Vídeo que gravei na night:

A galera do albergue foi embora umas 2h da manhã e eu continuei por lá até umas 4h. Na volta, eu me perdi e não conseguia encontrar o caminho de volta pro albergue, mesmo com a ajuda de um mapa !! Acho que as cervejas me fizeram perder o senso de direção, ehehehe ! Fiquei rodando um tempão pela cidade antiga e não tinha ninguém na rua pra pedir informação. Pelo menos tirei essas fotos iradas:

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Consegui achar um posto de gasolina, onde comprei uns biscoitos e uma garrafa d'água, e o caixa me ajudou a encontrar a rua do albergue. Quando cheguei lá, já estava amanhecendo, às 5h da manhã !!

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