sábado, 7 de março de 2015

[Mochilão 13] Dia 2: Jaipur


Foram 13:20h de voo até Abu Dhabi. Viajei pela Etihad, empresa aérea dos Emirados Árabes que está entre as melhores do mundo. Serviço excelente, comissários solicitos, comida gostosa, mas.... por melhor que seja a empresa, viajar de classe econômica durante muito tempo é sempre desconfortável. Como nunca consigo dormir nesses voos longos, fico tentando arrumar um jeito de fazer o tempo passar mais depressa. Assisti "Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio". Bem ruim o filme, mas pelo menos curti as mentiradas cinematográficas ao estilo Missão Impossível. Depois fiquei relendo alguns capítulos do livro "Expresso para a India". Já reparou que quando a gente quer que o tempo passe mais depressa, parece que ele passa mais devagar, só pra te sacanear ? Ainda faltavam uns 3 filmes inteiros pra chegar:


Finalmente cheguei em Abu Dhabi já de noite (+7h de fuso). O aeroporto de lá era uma babel, um resumo do mundo. Gente de tudo quando é lugar, de todos os tamanhos e raças imagináveis.

Fiquei só 2h esperando lá. Chamada para embarque:



Até Jaipur foram 3h de voo. No avião, de ocidental só tinha eu e mais 4 pessoas. Todos os demais eram indianos homens com aparência humilde. Provavelmente eram trabalhadores nos Emirados Arabes, país que depende fortemente da mão de obra barata de indianos e paquistaneses na construção civil e outros trabalhos de menor remuneração (garçons, cozinheiros, taxistas, etc).

Uma revista de bordo, com as "cobrinhas" árabes:


Serviram no jantar cordeiro assado com arroz, um clássico da comida árabe. MUITO BOM ! Cordeiro é a carne que eu acho mais saborosa. Pena ser tão cara no Brasil.

Na fileira da frente de onde eu estava sentado tinha um indiano que não parava de falar. Ficou falando (quase berrando) coisas incompreensíveis em hindi as 3h inteiras do voo. Nunca vi nada parecido. Estava conversando com outro cara que não falava nada, só balançava a cabeça concordando.

Chegando em Jaipur:


Cheguei às 3:30h da manhã (+8:30h de fuso, então pra mim na verdade eram 19h de sábado ainda).

Logo nos primeiros minutos em território indiano, ao desembarcar, já pude perceber a bagunça que eu ia encarar pelos próximos dias. Antes de passar pelo controle de passaportes, havia uma fila para entregar um papel declarando não ter os sintomas do ebola. O papel tinha que ser carimbado por dois médicos que estavam sentados numa mesa. Quer dizer, nos primeiros minutos era uma fila, mas depois virou uma zooooona só. Os indianos começaram a furar a fila, e aí vinham outros furando na frente dos que já tinham furado, todo mundo berrando em hindi com os ânimos exaltados. Na frente da fila, todos se acotovelavam querendo dar o papel para os médicos carimbarem antes dos outros. Alguns ocidentais olhavam perplexos a cena (me incluo nessa), sem saber o que fazer. Aí apareceu um guarda que ficou com pena dos pobres ocidentais, nos chamou para a frente da fila, recolheu nossos papéis e deu para um dos médicos carimbar. Na prática, ele furou a fila para a gente, mesmo sem a gente ter pedido, hehehehe. E o melhor, furamos a fila de quem tinha furado a fila na nossa frente, sendo que esses já tinham furado a fila na frente de outros ! Achou meio confuso ? A Índia é assim mesmo, mas no final tudo se resolve com a proteção dos deuses hindus. :-) 

Logo depois, passei pelo controle de passaporte. O guarda não perguntou nada. Só carimbou e falou "welcome". Brasileiros precisam de visto para visitar a Índia. A boa notícia é que o governo indiano liberou no ano passado o "visa on arrival" para turistas brasileiros, o que é um grande adianto. Isto significa que podemos tirar o visto ao desembarcar nos principais aeroportos da Índia (como Nova Delhi e Mumbai), nos livrando de toda aquela aporrinhação que é tirar visto em consulado. Acontece que o aeroporto de Jaipur, por onde entrei na Índia, ainda não aceita o "visa on arrival". Não tive escolha senão encarar a famosa burocracia indiana: algumas semanas antes da viagem me cadastrei no site do governo indiano (http://indianvisaonline.gov.in), paguei R$185,00 de taxa no Santander, e enviei meu passaporte por Sedex para o Consulado Geral da Índia em SP junto com toda a papelada: comprovante de pagamento bancário, foto 5x7, formulário preenchido, carta ao cônsul indiano autorizando a devolução do passaporte pelo correio, e um outro envelope preenchido para ser usado pelo consulado na devolução do passaporte, o que foi feito via Sedex 3 dias depois. Algumas perguntas do formulário que preenchi eram bem estranhas, como minha religião, se eu tinha algum sinal visível de identificação (ex: tatuagem ou cicatriz) e se meus avós eram paquistaneses (oi ?!).

Depois de pegar a bagagem, o controle alfandegário era bagunçado também. Uma fila enorme, e mais gente furando fila, para variar. Um cara embicou o carrinho de bagagem na minha frente, na maior cara de pau, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Eu fui e tentei passar a frente dele de novo. Aí veio outro e se meteu na frente de nós dois !!! O primeiro indiano não fez nada. Deve ser normal, algo cultural mesmo.... Deixei pra lá.

Apesar do horário (mais de 4h da manhã), estava bem movimentado o lado de fora do aeroporto, com muita gente saindo e muitos carros passando para buscar passageiros. Era bem confuso, porque não havia uma fila para taxi. Os taxis no aeroporto funcionam com preço tabelado e pagamento antecipado em guichês na saída do saguão de desembarque. O primeiro guichê de taxi que aparece logo quando você desembarca sempre é o mais caro. Isso parece ser verdade em qualquer lugar do mundo. No caso de Jaipur, a corrida da primeira empresa saía a 680 rúpias (R$31). Perguntei num outro guichê um pouco mais afastado, e era bem mais barato (450 rúpias=R$20,50).  Depois de pagar, fui levado pelo motorista até o estacionamento onde estava o taxi.


No caminho deu pra ver que realmente se trata de um país MUITO pobre. Vi alguns edifícios modernos e lojas da Porsche, Audi e Mercedes em ruas empoeiradas com uma aparência favelizada, muito lixo, vacas, mendigos e auto-riquixás fazendo barbeiragens inacreditáveis. O motorista do taxi buzinava feito um louco sem motivo nenhum, mesmo quanto não tinha ninguém na nossa frente.

O taxista, no meio do caminho, estranhamente disse que precisava do telefone do meu hotel. Ele ligou do celular dele, falou alguma coisa incompreensível em hindi no telefone, e ficou por isso mesmo. Deve ser algum procedimento normal aqui, mas não entendi o propósito.

Ao chegar no hotel (Vinayak Guest House), o recepcionista, que parecia que tinha acabado de acordar, perguntou se eu tinha reserva e qual o tipo do quarto que eu tinha reservado. Eu havia reservado um quarto individual com banheiro. Ele disse que não tinha esse quarto disponível, mas de manhã ia dar um jeito pra mim. Só havia um quarto sem banheiro disponível aquela noite. Não tive opção. Era isso, ou encarar ruas desconhecidas de um país desconhecido, sozinho, de madrugada, e pedindo licença para as vacas para encontrar outro hotel. Preferi dormir nesse quarto mesmo.

Hora do banho merecido antes de dormir. E aí veio o fato inusitado: o banheiro coletivo era um cubículo com cheiro de mofo que tinha duas torneiras, um balde e uma caneca. Não tinha um...digamos.... chuveiro, do jeito que a gente conhece. Uma torneira saía com água gelada, e a outra com água fervendo. E dá-lhe banho de caneca !!




O quarto era uma espelunca. O chão não via uma vassoura há séculos, e a roupa de cama parecia ter sido trocada uns 30 hóspedes atrás. Não tive coragem de deitar minha cabeça naquele travesseiro amarelo-caspa com fósseis de cabelos alheios. Pensei em chamar o recepcionista pra pedir outra ropa de cama, mas ele tinha sumido. Tive que apelar para o conhecido método McGuyver (ou em bom português, "magáiver"): forrei o travesseiro com meu casaco, e voilà ! Não era a melhor cama do mundo, mas era muito melhor que aquela poltrona maldita que encarei horas e horas. Dormi muito !


6 comentários:

  1. Cara, você dormiu sonhando que devia ter ido a Edimburgh, né? Por que não alugou um ap. pela Airbnb, barato e com opções de qualidade? Hostel em país desigual não dá. País que pergunta a sua religião? Eu não tenho nenhuma, como ficaria? rs...

    Um abraço, e bom passeio.

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    1. Olá Enaldo ! Acabei trocando de quarto por um melhor, mas nem tanto, rs ! Pelo menos era beeem barato, 500 rúpias = R$22 !!

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  2. Adoro seus relatos! Estou aqui na expectativa, porque a Índia é um país que me fascina, mas que eu, como mulher, não tenho os guts de ir. Uma amiga acabou de voltar de lá, e mesmo com os perrengues, gostou muito, mas ainda assim fico receosa. Então acho que é uma questão de ir vendo outras experiências, até achar que chegou minha hora! Boa viagem :)))

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    1. Oi Gabi ! Pra mulher é um pouco mais complicado mesmo por causa do assédio dos indianos, mas eu vi vários grupos de mulheres sozinhas aqui. Se ficar nas cidades mais turísticas daqui, acho que não tem problema não... recomendo muito a India ! Isso aqui é uma loucura ! Obrigado por prestigiar mais uma vez o blog.

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  3. Antes de mais, espero que tenhas uma Boa Viagem... Deve ser uma experiência super enriquecedora... quase tudo o oposto ao que estamos habituados... Novas culturas, tradições, religião, gastronomia, limpeza, organização, etc, etc... uma coisa é certa... vai ser preciso muito "estômago" e espírito aberto para encarar tudo isso... Cá fico eu em Portugal à espera dos teus relatos, que nos fazem viajar, mesmo sem sair do lugar :)

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    1. Olá Celso ! Muito enriquecedora a experiência ! Tudo é diferente e louco....um mundo a parte que a gente não sabe que existe quando está vivendo nossa vida no ocidente. Obrigado por visitar novamente o blog....aos poucos vou publicando as histórias. Estou em Agra e tenho 3h livres até a hora do meu trem e mais 3h de viagem ate Delhi, então acho que consigo publicar alguma coisa hoje. Abs.

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