quarta-feira, 11 de março de 2015

[Mochilão 13] Dia 6: Agra-Nova Delhi

Algumas informações sobre Agra:  é uma cidade industrial muito poluída com 1,8 milhão de habitantes.  Fica localizada no estado de Uttar Pradesh, o mais populoso da Índia, com 200 milhões de habitantes e um território do tamanho do estado de SP. É gente que não acaba mais.

Localização de Uttar Pradesh no mapa da Índia:




Acordei às 6h da manhã com dor de barriga. Já estava até me achando um cara de sorte por não ter tido “piriri” ainda na Índia. Mas felizmente foi só um alarme falso. Logo depois que levantei, passou a dor. Pelo menos isso me fez acordar cedo para fugir das multidões que chegam para visitar o Taj Mahal após as 10h.

 O sol havia acabado de nascer. Comi os últimos biscoitos que me restavam e fui correndo para o terraço do hotel para ver o Taj Mahal. A primeira visão ao vivo de um cartão-postal do mundo é sempre inesquecível ! Simplesmente sensacional o Taj !!! Me lembro bem da primeira vez que vi ao vivo o Coliseu, a Torre Eiffel, a Sydney Opera House, as pirâmides de Gizé... a sensação foi a mesma.


Vista da "favela" ao lado do hotel: 


Ao lado da "favela", um hotel 5 estrelas. Contraste típico da Índia. 


Então chegou a hora de conferir de perto o famoso Taj Mahal. O hotel ficava a apenas 600m da bilheteria.

Frente do hotel:





Rua do hotel:


Camanha contra a exploração de animais pelos “street performers”:


A bilheteria do Taj Mahal fica a 1 Km da entrada principal. A entrada custou 750 rúpias (R$32,50). Foi a atração mais cara da viagem até agora. Isso é mais caro do que eu paguei de diária no hotel. O ingresso para indianos custa muito menos.  Junto com o ingresso, você ganha uma garrafa d’água e uma proteção para os sapatos. Para se aproximar do Taj Mahal é preciso usar esta proteção ou andar descalço. 


Bonecos com as roupas típicas da época da construção do Taj Mahal:


No caminho para o Taj, muitas lojas de souvenirs e restaurantes.  Eu era abordado o tempo todo por indianos querendo me levar de riquixá para a entrada, ou pelos vendedores das lojas querendo me atrair para comprar alguma coisa. Tinha também aqueles que se ofereciam para ser guias.  Alguns se aproximavam dizendo ‘I’m not guide. Where are you from ? Where are you going ?”, e logo depois perguntavam se eu queria um guia para conhecer o Taj Mahal. Outros puxavam conversa na rua e depois me convidavam para conhecer a loja deles. 



A poucos metros do Taj, um canal com forte cheiro de esgoto:


O Taj Mahal fica num enorme parque cercado por muralhas onde há 3 portões (Oeste, Leste e Sul). Entrei pelo portão sul, o mais próximo ao meu hotel.

Pátio de entrada do parque:



Mapa do parque:



O portão principal, que dá acesso ao Taj Mahal:


E aí esta ele ! Simplesmente uma das mais belas construções já feitas pelo homem ! Impressionante  !!



Um vídeo que grevei com a vista do parque:


O Taj Mahal foi construído pelo imperador (xá) Jeham em 1631 como mausoléu para sua esposa Mumtaz Mahal, morta ao dar a luz.  A morte dela o deixou tão abalado que diz-se que seus cabelos ficaram grisalhos da noite pro dia. Nada no Taj Mahal lembra morte ou tristeza.  Pelo contrário,  é como se ele tivesse adquirido a alma da princesa. Foi construido durante 22 anos por cerca de 20 mil operarios. Talvez homem nenhum no mundo consiga homenagear a mulher amada de tal forma como fez o xá Jeham.

A foto clássica: 




Chegando perto dele:




Eram 8h da manhã e o lugar já tinha muitos turistas. Mas pelo que me avisaram no hotel, a partir das 10h fica lotado, porque chegam os ônibus de turistas hospedados em Nova Delhi que fazem “bate e volta”  em Agra. A todo o momento chegavam grupos de turistas. A grande maioria era de famílias de indianos, muitos usando suas roupas típicas coloridas e com o “terceiro olho” pintado no meio da testa.
  

Vista do portão principal a partir do Taj Mahal:


Para pode entrar no Taj Mahal, é necessário usar esta proteção nos sapatos. Isto é para não sujar o piso de mármore.


Uma das minaretes:


Detalhes da fachada de mármore:





Um dos portões do Taj:





O interior do Taj é  pequeno e tem apenas o mausoléu do xá Jeham e sua esposa Mumtaz Mahal. Não era permitido tirar fotos lá, mas sinceramente não tinha nada de especial. O Taj Mahal é mais bonito visto de fora. 

Atrás do Taj passa o poluidíssimo rio Yamuna, o mesmo que passa por Nova Delhi, onde recebe esgoto sem tratamento de muitas favelas.


O parque tem ainda uma mesquita e outro edifício idêntico construído do outro lado do Taj apenas para manter a simetria do parque. Este outro edifício não pode ser usado como mesquita, porque não é voltado para Meca.




Interior da mesquita:                                       



Um pequeno museu dentro do parque:


Grupo de indianas com roupas roloridas:


É muito comum ver indianos nas ruas descansando nesta posição, de cócoras.


Fiquei contemplando o Taj por um longo tempo e fui embora as 10:30.  O parque estava lotado e não parava de chegar grupos enormes de turistas. Vi apenas um grupo pequeno de brasileiros.

A habilidade dos guias indianos é impressionante. Vi guias falando até em japonês. 

Ao sair do parque, vi um grupo de búfalos andando na rua:


O assédio ao turista em trente a entrada do parque é implacável. A cada 10 metros eu era parado por um vendedor em frente a alguma loja. Comprei alguns souvenirs, e o assédio foi ainda maior quando os vendedores me viam carregando a sacola com as compras. Deviam pensar “Opa, esse aí tá a fim de comprar !”.


Voltei pro hotel, fiz o checkout e deixei a bagagem na recepção.

Alguns quadros nas paredes do hotel:






Já passava de meio-dia e bateu uma fome. Peguei um tuc tuc para chegar a um dos melhores restaurantes da cidade, o Piece of Spice, de comida indiana. Foi bem recomendado pelo guia Lonely Planet. A corrida de tuc tuc saiu por 160 ida e volta. Eu tinha pedido ao motorista apenas para me levar ao restaurante, mas ele disse que ia me aguardar na porta e me levaria de volta para o hotel, deixando que eu pagasse a corrida só no final. Reparei que essa prática é comum na Índia. Os motoristas preferem ficar esperando pelo passageiro sem rodar para terem mais uma corrida garantida, em vez de ficarem rodando na rua sem nada ganantido. Até faz sentido. Como diz aquele velho ditado, “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.




O restaurante era muito bom !! Só tinha estrangeiros. Os preços eram bem altos para os indianos, mas considerando a qualidade da comida, o atendimento e as instalações do lugar (era bem sofisticado), saiu de graça. A conta deu 635 rúpias (R$27,50) com impostos e taxa de serviço incluida. No Brasil seria muito mais !!


Guardanapo:


Murg Boti Masala (frango com curry MUITO picante):


Pão naam:


Cebolas:


Cricket (o esporte nacional da Índia) passando na TV:


Voltando pro hotel de tuc tuc vi uma carruagem colorida passando na rua e sendo seguida por um monte de gente. Não entendi se era alguma festa religiosa, casamento ou outra coisa qualquer. Mas era muito bonito.




Dei uma volta pelas ruas próximas ao Taj. A cidade é um grande favelão como Jaipur. A poucos metros da entrada principal do Taj Mahal vi muita pobreza, sujeira,  casas precárias, crianças maltrapilhas brincando no meio do lixo e do esgoto a céu aberto. Entre as casas pobres vi pequenos mercados, restaurantes com panelas cozinhando comida na calçada, alfaiates, sapateiros, ferreiros, senhoras fazendo pão, barracas de frutas e frituras, motoristas de tuc tuc.... gente muito simples, cada um tentando ganhar a vida honestamente à sua maneira. Mesmo sendo um lugar muito pobre, me senti muito seguro. Não vi nenhuma pessoa com atitudes suspeitas ou me olhando de forma ameaçadora. Acredito que a ausência do tráfico de drogas e alcoolismo seja a causa do baixíssimo índice de roubos e homicidios na Índia. 




Peguei novamente um tuc tuc para ir a Fortaleza de Agra, que fica do outro lado da cidade. O motorista disse que ia me esperar na saída para me levar de volta para o hotel. A corrida saiu por 300 rúpias (R$13)

A Fortaleza de Agra era capital do Imperio Mogol (não confundir com Mongol, da Mongólia). Os mogóis foram islâmicos provenientes da Asia Central, onde atualmente é o Uzbequistão, Irã e Afeganistão. O império teve sua fundação em 1526, entrou em declínio a partir do início do século XVIII e foi extinto em definitivo pelo poderio britânico em 1857. Contava com uma população entre 110 e 130 milhões de habitantes (1/4 da população mundial na época) distribuída em um território de mais de quatro milhões de km², que compreendia a maior parte dos atuais Paquistão, Afeganistão e Bangladesh, além da Índia. Foi um dos impérios mais poderosos e influentes do mundo naquela época. Teve seu apogeu no século 17. Nessa época foi construido o Taj Mahal.  Em 1638 foi construida uma nova cidade em Delhi (onde é atualmente Old Delhi) para onde foi transferida a capital.

Entrada da Fortaleza de Agra. O ingresso custou 250 rúpias (R$11).





Sistema de captação e armazenamento de águas pluviais:



O Taj Mahal visto da janela:





Interior da fortaleza:











Grupo de turistas indianos de terceira idade, todos com o “terceiro olho” pintado na testa:


Na saída da fortaleza, custei a encontrar o meu tuc tuc. Tinha dezenas deles lá estacionados aguardando pelos seus passageiros.


Voltei para o hotel e fiquei blogando lá até de noite, aguardando dar a hora do meu trem. Houve uma hora que veio um funcionário do hotel e me perguntou: "Massage, sir ?"   No, thanks ! Sou espada ! Qual é, ser massageado por homem ?! Na cultura indiana talvez isso seja normal. Uma mulher indiana jamais poderia fazer massagem num homem desconhecido.

Peguei um tuc tuc para a estação Agra Cantt, uma outra estação ferroviária que ficava mais afastada. A corrida saiu por 200 rúpias (R$8,70).


A estação estava bem cheia, e tinha um monte de gente maltrapilha dormindo no chão:



Tinha várias lanchonetes na estação vendendo pizza, sanduíches e comida indiana, mas fiquei com medo de comer algo e passar mal no trem. Preferi comprar algo industrializado: biscoitos, bolos e um suco de manga.

Enquanto estava esperando o meu trem, vi que tinha um mooooooonte de ratos passando pelos trilhos do trem. E de repente uns indianos atravessaram pelo meio dos trilhos para o outro lado em meio aos ratos, sem se importar com a presença deles.

Painel com os horários dos trens. O meu trem atrasou meia hora para chegar.


Embarquei no meu vagão, que era do tipo "AC Chair".




A passagem custou 600 rúpias (R$26) e deu direito a uma refeição a bordo, que era servida por um "comissário" do trem:


Curry com arroz (que estava bom) e um pão com um recheio estranho que não tive coragem de comer. Deram ainda uma garrafa d'água, iogurte e sorvete de sobremesa.


O trem fez apenas uma parada no caminho e demorou 2:15 para chegar a Nova Delhi (200km), onde chegou meia-noite.


O trajeto da viagem:



Logo ao sair do trem, ainda dentro da estação, fui abordado por motoristas de tuc tuc, que despensei imediatamente. 

Desembarcando:


A primeira visão da estação ferroviária de Nova Delhi foi um choque: tinha muuuuuita gente dormindo no chão. Uma coisa horrível.


Saindo da estação, enquanto eu tentava encontrar a direção correta para achar a rua do meu hotel, fui abordado por uns 20 ou 30 motoristas de tuc tuc. Alguns ficavam de "sombra" (me seguindo), mesmo quando eu os ignorava completamente. A parte de fora da estação era um caos completo: um trânsito horrível, com um monte de tuc tucs buzinando, e era impossível atravessar a rua, ainda mais de mochila. A orientação era muito complicada, porque estava de noite, e as ruas não tinham placas com nomes.

Tinha um "sombra" me oferecendo um "very cheap hotel", que não largava do meu pé de jeito nenhum.  Eu encontrei um "Tourist Information Office" em frente a estação, mostrei para o funcionário o nome do meu hotel e perguntei como fazia para chegar lá. O "sombra" tinha entrado também e ficou observando a conversa. O funcionário se limitou a dizer: "Pega um riquixá !". Só podia estar de sacanagem, né ? Custava me explicar como chegava lá ?  Surpresa, surpresa...o tal "sombra" também tinha um riquixá e se ofereceu para me levar para o tal "very cheap hotel". Eu expliquei que já tinha reserva no hotel e tinha pago 10%, então não adiantava querer me levar para outro hotel, porque eu não ia ficar lá. Ele disse que a diária do meu era 1500 rúpias (mentira, paguei metade disso). Eu já estava tão cansado, e o riquixá era tão barato (50 rúpias = R$2,20) que preferi pagar para me livrar do "sombra".


Fomos percorrendo umas ruas estreitas, imundas e com aparência favelizada. Esta região chama-se Paharganj e tem muitas pousadas baratas. A vantagem de se hospedar neste local, além dos preços baixos, é que fica bem perto da estação central de trens de Nova Delhi, de uma estação de metrô, e do Airport Express, a linha de trem para o aeroporto.

O cara do riquixá parou no tal hotel onde ele queria me convencer a ficar. O recepcionista saiu e veio querer negociar o preço comigo, mas eu expliquei o mesmo que já tinha falado para o cara do riquixá: já tinha pago 10% de reserva em outro hotel. Partimos então, e alguns quarteirões depois, fui deixado no meu hotel (Su Shree Continental). A diária custou 780 rúpias (R$34). 

Ao fazer o checkin, o recepcionista seguiu o padrão que observei nos outros hotéis onde fiquei: abriu o livro de reservas e me mandou assinar lá. Todo o processo de reservas é feito manualmente na Índia.  Enquanto eu assinava no livro, ele soltou um arroto daqueles que fazem vibrar as profundezas gástricas. Sim, arrota-se muito aqui, e não é considerado falta de educação. 

Todo hotel aqui na Índia, por mais simples que seja, sempre tem um carregador de bagagem. Então é sempre bom ter uma nota de 20 rúpias (R$0,90) no bolso para dar de gorjeta.

O quarto era bom, de fundos, bem silencioso. Como nos outros hotéis onde fiquei na Índia, a cama não tinha lençol para se cobrir (só cobertor), e as fronhas estavam cheias de manchas estranhas, com uma aparência meio suja. 



O banheiro seguia o padrão indiano: janela para o corredor do hotel (privacidade pra quê ??), balde, caneca, e sem box. E a água não esquentava, para variar.


Um monte de interruptores de luz para brincar de "jogo indiano da adivinhação". Apenas um dos botões acendia a única luz que havia no quarto.


A TV indiana tinha umas coisas muito engraçadas. Esse cara não parece o Garotinho de turbante ? heheheh


Esse clip de música indiana é uma comédia ! Até gravei um vídeo.


Comi uns biscoitos que tinham sobrado da viagem e apaguei na cama. 

3 comentários:

  1. Eu duvido que em Nova Délhi não há hotéis intermediários entre o padrão PT de corrupção e o padrão Alexandre de pão-durismo, rs...

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  2. Cara, tô aqui num pub na terra do Pet, com a camisa dele!, rindo muito dessa postagem!! A índia diverte, é assim mesmo. Eu me pegava negociando tuc tuc na virgula, coisa de 10 rupias. Mas só pela diversão, pq é mto barato!

    Muito bom ler, valeu mesmo!

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  3. Cara, tô aqui num pub na terra do Pet, com a camisa dele!, rindo muito dessa postagem!! A índia diverte, é assim mesmo. Eu me pegava negociando tuc tuc na virgula, coisa de 10 rupias. Mas só pela diversão, pq é mto barato!

    Muito bom ler, valeu mesmo!

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