quarta-feira, 6 de setembro de 2006

[Mochilão 3] Dia 6: Nápoles - Capri - Costa Amalfitana

Aproveitei o dia para conhecer a famosa Ilha de Capri. Esta é uma ilha que sempre me despertou curiosidade. Quando criança, ia com freqüência com meus pais a uma pizzaria muito tradicional em Niterói chamada Gruta de Capri. Numa das paredes de azulejo havia uma pintura da Grotta Azurra, a gruta que dava nome a pizzaria. Chegou o dia de conhecê-la !

Fui para o porto em frente ao albergue comprar a passagem. Me chamou a atenção ver crianças italianas pedindo moedas na fila da bilheteria, cena pouco comum em solo europeu.

O barco saindo do porto:

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Travessia durou cerca de uma hora. O barco tinha dois andares, e o andar superior era descoberto. Fui no andar de cima.

Saindo de Nápoles:

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Chegando em Capri:

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A primeira imagem da ilha é impactante. É um lugar encantador. A paisagem lembra uma ilha grega, com o mar azul profundo e as casas pintadas de branco nas encostas da montanha. Logo ao lado da marina, uma pequena praia com água azul turqueza.

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Video que gravei da praia:

O barco que me trouxe a ilha é este menor, na frente do catamarã:

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A Marina Grande, onde desembarquei:

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Peguei um funicular até a vila de Capri, no alto da montanha. A vista lá de cima é sensacional, e a vila é muito bonita. Lembra a ilha de Santorini, na Grécia. O lugar é habitado e visitado por ricaços europeus.

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A onda lá é andar de taxi conversível, no estilo "ilha da fantasia", como este:

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Delícias italianas, como o Calzone al forno:

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Mais delícias: tortina al limone, saltimbocca, schiacciata caprese e sfogliatella:

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Do outro lado da ilha, uma paisagem de cinema !!! Sensacional !

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Meu almoço: calzone al forno e sfogliatella:

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Desci o funicular de volta para a Marina Grande, e peguei um barco para fazer o "Giro Isola" (dar a volta na ilha).

Tirando eu, a pessoa mais nova no barco devia ter 65 anos. Os velhinhos estavam na maior empolgação e tiravam foto de tudo. Fiquei olhando para eles, e pensando se daqui a uns 30 ou 40 anos eu serei um daqueles velhinhos empolgados disfrutando a merecida aposentadoria em grande estilo.

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Video que gravei:

A volta na ilha terminou, e não fomos na Grotta Azzurra !! Como assim !? Perguntei para o guia do passeio, e ele falou que só é possível entrar na gruta em canoas para no máximo 4 pessoas, e que aquele seria um outro passeio que não estava mais disponivel naquele horário. Pô, que frustração ! Eu fui em Capri e não consegui conhecer aquela misteriosa gruta da pizzaria que eu ia quando criança. Mas não tem nada não, isso foi para me dar mais vontade de voltar lá uma outra vez, e espero que seja antes da minha aposentadoria !

Achei esta foto da gruta na internet:

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Peguei um outro barco na Marina Grande para fazer a travessia até Positano, na Costa Amalfitana, ao sul de Nápoles. A Costa Amalfitana é um trecho montanhoso do litoral que impressiona pela beleza natural e pelos vilarejos charmosos, com as casas subindo as montanhas.

Positano é este belo vilarejo de 4 mil habitantes, com restaurantes sofisticados e pousadas charmosas:

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Video que gravei em Positano:

Perto de Positano ficam os vilarejos de Praiano e Amalfi. Na Costa Amalfitana não há trem, devido ao relevo acidentado. Só me restava ir de ônibus ou barco. O ônibus estava demorando muito, então peguei um barco até Amalfi, que é o maior vilarejo da região.

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Cheguei a Amalfi às 20h e já estava escuro. Dei uma volta pelo vilarejo, de apenas 5 mil habitantes. Muitos restaurantes, lojas de souvenirs e turistas passeando pelas ruas de pedestres.

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Fiquei cerca de 1h por lá, e comprei um bilhete de ônibus numa loja de souvenirs. Lá não é possível pagar a passagem para o motorista na hora de embarcar, tem que comprar antes em determinados pontos de venda.

Li no meu guia que eu teria que pegar um ônibus até a cidade de Sorrento, e de lá pegar o trem da linha Circumvesuviana até Nápoles. Não dava mais para voltar de barco, por causa do horário. Esperei cerca de 20 minutos pelo ônibus, e embarquei.

O ônibus foi seguindo uma estrada sinuosa contornando a costa, algo como a Av. Niemeyer. Depois de uns 20 minutos, comecei a desconfiar que algo estava errado. Primeiro, só tinha italiano no ônibus. Onde estavam os turistas ? Segundo: não passamos por Positano, que ficava no caminho para Sorrento. Desembarquei no ponto final. Quando desci do ônibus, ao ver o destino escrito no pára-brisa, caiu a ficha: eu peguei o ônibus errado !!!!! Em vez de ir para Sorrento, eu fui para....SALERNO !!! Aquele era o último ônibus. Perrengue a vista !

Salerno é uma cidade portuária sem grandes atrativos. Menos mal é tinha trem direto para Nápoles. Andei duas quadras até a estação ferroviária. Fui comprar a passagem num caixa de auto-atendimento, e para minha felicidade, ainda havia um trem mais tarde para Nápoles. Quando fui pagar, a surpresa desagradável: a máquina não estava mais aceitando pagamento em dinheiro, pois estava sem troco. Mesmo se tivesse o dinheiro trocado, não adiantava. A única alternativa seria pagar com cartão de crédito, mas eu não havia levado o meu, tinha deixado no albergue. As bilheterias estavam todas fechadas, e um cartaz avisava que o horário de atendimento era de 6 às 20h.

E agora ? Eu estava isolado numa cidade esquisita a 50Km de Nápoles, sem ter como sair de lá, e para piorar, o meu vôo para Berlim estava marcado para 10:10 do dia seguinte ! Só faltava essa. A única alternativa seria ir de taxi, mas sairia uma fortuna, e eu tinha apenas 30 euros na carteira. Eu poderia dormir em algum hotel simples, mas não teria dinheiro para comer alguma coisa, e nem para a passagem de trem. Eu costumava sempre andar com o meu cartão de crédito, mas justamente naquele dia, não havia levado, pois achei que estava levando dinheiro o suficiente e que não seria necessário. Lei de Murphy !

O jeito era esperar na estação até as 6h da manhã, quando as bilheterias abririam, e eu poderia pagar a passagem em dinheiro. O que eu iria fazer naquele lugar esquisito das 22h até as 6h eu não tinha a menor idéia. Resolvi comer algo, pois a fome bateu. Achei um pequeno bar aberto perto da estação, onde haviam alguns poucos italianos assistindo a uma partida de "calcio". Pedi uma Nastro Azzurro (cerveja) e dois pedaços de pizza, um de margherita con melanzane (beringela) e outro com peperoni. Fiquei ali fazendo um tempo. Olhei o relógio e ainda eram 23h. Descobri que o tempo é algo muito relativo no nosso dia-a-dia. Quando a gente quer que ele passe rápido, ele demora demais. E quando a gente quer que demore a passar, ele voa.

Começou a esfriar. Voltei pra estação ferroviária. A estação era pequena e suja. Tinha um aspecto decadente. Algumas poucas pessoas de aparência simples passavam por ali para pegar o último trem da noite, aquele que eu deveria ter pego para Nápoles. Deu meia-noite e a temperatura despencou. Só tinha um lugar onde me abrigar, que era a sala de espera. Quando abri a porta, foi a visão do inferno: a sala tinha alguns mendigos deitados no chão, em cima de papelões, e outros nas cadeiras. O fedor era horrível, ainda mais que as janelas estavam fechadas. Eu tinha que escolher entre aquilo, ou passar frio. Fiquei com medo de ficar doente no meio da viagem, o que não seria nada agradável, e resolvi encarar a sala dos horrores.

O relógio ainda marcava 00:30. A noite seria longa. Tentei arrumar algum passa-tempo. Vi e revi todas as fotos da viagem. Fiquei lendo o guia. Cada vez que olhava no relógio, o desespero aumentava, pois parecia que o tempo estava andando mais devagar. A hora não passava !!! Comecei a ficar cansado. Coloquei a mochila no meu colo e debrucei sobre ela. Dei uma cochilada. De vez em quando chegava mais um mendigo para fazer companhia aos outros, e deixar o ar da sala mais "cheiroso".

De repente, senti que alguém sentou do meu lado, e acordei. Era um coroa, de uns 50 anos, bem vestido. Começou a puxar conversa em italiano. Perguntou de onde eu era, o que estava fazendo lá na Itália, e o que tinha conhecido de bom. No começo, parecia gente boa. Ele pegou, então, um jornal que estava numa das cadeiras, e abriu sobre mim, mostrando as notícias. Achei meio esquisito. Ficou mostrando e tentando explicar o que queria dizer cada manchete. De repente, abrindo mais o jornal sobre mim, ele falou "vamos para o meu carro, onde podemos ficar a sós"... e meteu a mão na minha perna. Só faltava essa ! Levantei, xinguei ele de bicha velha para baixo, e mandei ele pra aquele lugar (em português mesmo). Ele foi embora sem falar nenhuma palavra. Não deve ter entendido nada do que eu falei, mas entendeu que era hora de ir embora. Os mendigos todos acordaram com o rebuliço, e ficaram olhando com cara de assustados, sem entender o que acontecia.

A hora simplesmente não passava. Dei algumas cochiladas de novo, mas toda hora acordava, imaginando quem seria o outro louco que apareceria do meu lado para tornar minha noite ainda pior. Talvez algum mafioso da Camorra, a temida máfia napolitana, me confundindo com algum inimigo. Ou quem sabe eu tiraria a sorte grande, e a priminha mais nova da Clicciolina aparecesse toda dengosa do meu lado, para compensar o perrengue que eu estava passando aquela noite.

Comecei a ficar preocupado se daria tempo de voltar para Nápoles, ir até o albergue (longe da estação), pegar minha mochila, e chegar no aeroporto 1h antes do meu vôo para Berlim.

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